Mulheres na Bauhaus
Walter Gropius foi um homem revolucionário e à frente do seu tempo em diversos sentidos, mas em relação às mulheres dentro da Bauhaus não se pode dizer o mesmo.
Ao fundar a escola um dos maiores objetivos de Gropius era fazer do trabalho manual a base para a educação de artes e romper com a barreira entre artista e artesão, trazendo o mesmo peso a essas duas palavras quando colocadas em prática. A escola era formada por 150 alunos, 6 oficinas (metal, mobiliário, tecelagem, cerâmica, teatro e dança) e mestres especializados para cada uma dessas oficinas.
A escola era democrática. Os alunos tinham liberdade para criar e eram incentivados constantemente a produzir, além de terem o caminho aberto para evoluírem à mestres. Porém a história mudava quando se tratavam das alunas mulheres. O próprio Gropius impôs que a seleção de mulheres era mais rigorosa e haviam algumas oficinas que elas não poderiam nem sequer participar.
Contudo, o talento de algumas mulheres que passaram pelas Bauhaus merecem destaque e aqui quero deixar alguns nomes daquelas que marcaram a história do design, resistiram às restrições da época e fizeram diferença dentro e fora da escola.
MARIANNE BRANDT
(Chemnitz, 1893 - Kirchberg, 1983)
Marianne Brandt foi uma das designers com maior destaque no modernismo. Também teve seu reconhecimento atuando como pintora e fotógrafa. Sendo uma das poucas mulheres que conseguiram ingressar e, mais tarde, dirigir a oficina de metais da Bauhaus, Marianne se destacou por criar peças que estavam alinhadas ao funcionalismo e ao construtivismo tão característicos do momento.
Dar uma nova cara aos objetos cotidianos foi uma das principais características nas criações da designer, como é o caso da icônica Chaleira MT49 e da Luminária Kandem. Brandt tinha o talento de converter à arte elementos simples da nossa rotina, sendo eles essenciais e poéticos ao mesmo tempo.
É muito interessante ver como Marianne criava suas peças inspirada na abstração geométrica, movimento muito presente na Bauhaus e que trazia frequentemente o minimalismo e a elegância, traço chave nas suas peças.
LILLY REICH
(Berlim, 1885 - Berlim, 1947)
Considerada uma das figuras centrais da história do design e da arquitetura do século XX, Lilly Reich teve uma carreira bastante significativa tanto no design de interiores quanto em organização de exposições.
Embora seu período de maior reconhecimento tenha vindo das suas parcerias ao longo dos mais de 10 anos trabalhando ao lado do arquiteto Ludwig Mies van der Rohe, Lilly começou sua trajetória na criação de móveis e interiores muito antes. Em 1908 se mudou para Viena para colaborar com a Wiener Werkstätte, um grupo de artistas e designers com ideais semelhantes ao da Bauhaus. Já de volta a Berlim, em 1912, foi uma das poucas mulheres a ser admitida no German Werkbund, uma instituição dedicada a promover o design e as manufaturas alemãs, e da qual foi diretora.
Quando se trata da sua longa parceria com Mies van der Rohe, vale destacar sua participação no projeto do Pavilhão Alemão para a Exposição Universal de Barcelona de 1929, o interior da Casa Tugendhat na República Tcheca (1928-1932) e dois dos ícones que surgiram em ambas as obras, a poltrona Barcelona e a cadeira Brno, que também levam, pelo menos em parte, sua assinatura.
ANNI ALBERS
(Berlim, 1899 - Orange, 1994)
Anni Albers foi uma artista têxtil, pintora e designer alemã que, além de estudar na Bauhaus, também teve seus anos como diretora da oficina têxtil. Um fato curioso é que a princípio Anni teve sua candidatura rejeitada na escola e, quando aceita, não tinha como primeira opção o curso de tecelagem. Essa foi uma das poucas escolhas que a artista teve para poder entrar na escola, que tinha suas restrições em relação às mulheres em grande parte das oficinas. Mas rapidamente Anni foi se encantando com a tecelagem e aprendeu trabalhar em diferentes tipos de teares.
A artista era de uma família judia e privilegiada, seu pai era fabricante de mobílias e sua mãe vinha de uma família que dirigia a maior editora da Alemanha. Com isso, Anni foi incentivada desde pequena a se dedicar às artes.
Além de ter iniciado a sua carreira na Bauhaus, foi ali também que conheceu o artista e professor da Bauhaus, Josef Albers, com quem se casara em 1924.
Logo em 1933, quando o partido nazista obrigou o fechamento da escola, Anni e Josef se viram obrigados a abandonar o país por falta de emprego e principalmente pelo fato dela ser judia. No mesmo ano tiveram o convite para trabalhar na Black Mountain College, uma importante escola de arte moderna dos Estados Unidos.
Anni deixou sua marca na história. Como criadora, ajudou a elevar os têxteis a categoria de obra de arte, sendo a primeira artista têxtil a expor no MoMa. Já como professora, ela encorajou seus alunos a deixar o material e a técnica conduzirem o design, como ela mesma dizia: "Você aprende o que o material lhe diz e o que a técnica lhe diz". Ela inspirou uma geração de alunos a se tornarem artistas têxteis e visuais.
_____________________
Casa Galeria é uma coluna assinada pela fotógrafa e diretora criativa Flávia Ribeiro em parceria com Westwing Brasil.